Três pilares guiam o nosso trabalho: a liberdade física, financeira e emocional.

Não dá para elencar qual é a mais importante, e enquanto temos muitos fatores que fogem do nosso controle, a liberdade emocional merece uma atenção especial. Ela é afetada pelas outras duas.

Qualquer pessoa pode se envolver em um relacionamento abusivo, que tira nossa liberdade física. Problemas financeiros afetam nossos sentimentos. Mas mesmo pessoas que não têm limitações de dinheiro e relacionamentos saudáveis, também podem ter que lutar com a saúde emocional.

E lutar é a melhor forma de definir o que acontece, porque não é nada fácil.

Entramos em setembro, mês de prevenção ao suicídio e precisamos falar sobre isso.

 

 

Para além dos dados que indicam que uma pessoa tira a própria vida a cada 40 segundos, e que cerca de 800 mil pessoas no mundo se suicidam ao ano, tem ainda um número muito maior de pessoas que pensam nele, que tentam, com diferentes níveis de ímpeto, mas felizmente não vão até o final.

São três os grupos com quem achamos importante falar, mas mesmo se você não for de um deles, refletir sobre isso cabe a todas nós: pessoas que convivem com problemas de saúde emocional, amigos e familiares dessas pessoas, e os amigos e familiares que perderam alguém dessa forma.

O suicídio é o último degrau de uma escalada que costuma ter muitos degraus.

Existem sinais:

A pessoa se isola, até das pessoas que ela mais gosta. As tarefas mais simples e cotidianas parecem muito difíceis de realizar. Falta de interesse por aquilo que antes nos animava ou era empolgante. Mudanças nos hábitos alimentares, podendo ser opostas: falta de apetite ou alimentação compulsiva. Falta de motivação para se cuidar, desde escovar os dentes, tomar banho ou trocar de roupa. Dificuldade de se concentrar e falta de vontade de empenhar esforços para isso. Sensação de que você está desconectada da realidade das pessoas ao seu redor.

E os pensamentos suicidas, nem sempre são “eu quero morrer”.

Eles também aparecem como:

“Eu sou um peso, um fardo para as pessoas que amo. Elas ficariam melhor sem mim”

“Ninguém liga que eu existo”

“Me sinto presa e preciso de uma saída”

“Não existe um futuro que eu queira estar”

“Dormir não é suficiente para aliviar meu sofrimento”

“Preciso me livrar desse ciclo de pensamentos negativos”

“Não aguento mais essa dor”

Lidar com esses sentimentos e pensamentos é muito difícil. Mais difícil quando tentamos fazer isso sozinhas, sem apoio de outras pessoas e principalmente de ajuda profissional.

Quando tudo está demais para suportar, e isso acontece por muito tempo, é preciso que haja uma intervenção. Terapêutica e muitas vezes química também. Não há nada de errado em precisar de remédios por um tempo, ou mesmo por toda a vida. Não é uma vergonha.

 

 

Não devemos abrir mão de qualquer recurso que faça com que a gente continue existindo.

Falar que a vida é bonita, que coisas boas acontecem e que os sentimentos ruins vão passar dificilmente é algo que será assimilado por quem está em um crise.

Por isso é importante se apegar ao fato mais básico da vida: ela acaba.

Nossa morte é a única certeza absoluta e realmente não faz sentido encurtar essa viagem, mesmo quando ela parece sufocante.

 

 

Sem entrar na questão de fé, do que acontece depois, terminar a nossa existência, essa oportunidade única de ser quem a gente é, não pode ser entendido como o único caminho.

E se vamos morrer, mais cedo ou mais tarde, precisamos nos permitir ter a chance de viver coisas que nem imaginamos, sabendo que é possível melhorar, que não vai ser sempre tão difícil.

Tem pessoas que vão amar te conhecer. Permita.

Tem lugares em que sua presença é necessária. Esteja neles.

Vai ter um dia normal que será contemplado com um acontecimento incrível. Esteja disponível para esse dia.

Existem coisas que vão te empolgar de novo.

E não tenha dúvidas que o mundo é melhor com a sua presença. Só você pode ser você.

E se falei em permitir aqui em cima, permita que você mesma conheça a sua melhor versão.

A mais curada, a mais satisfeita, mais tranquila e mais feliz.

Se tem algo que vale a pena lutar é poder conhecer essa sua versão de você.

Não precisa dar 100% de você o tempo todo, respeite seu tempo de cura, não se cobre isso, de estar radiante o tempo todo. Mas fique por aqui para ver seu progresso. Que seja 1% melhor a cada dia. Uma hora você vai sentir que está vivendo ao invés de sobrevivendo. Esteja aqui para esse dia.

 

 

E para quem convive com alguém que luta com a saúde emocional, saiba estar presente sem cobrar, sem julgar, sem fazer promessas que não sabe se pode cumprir. Esteja lá para escutar, mesmo quando ela não quiser falar. É difícil saber dosar a atenção na medida certa, mas é possível. Se ofereça para acompanhá-la em uma consulta ou em outra forma de conseguir ajuda. Seja empática e não diminua suas dores. Ninguém é culpada pelos próprios sentimentos, mas ter alguém ao lado faz toda a diferença.

Por fim, para quem perdeu alguém dessa forma, saiba que não existe culpa ou responsabilidade. Não se puna com pensamentos do que poderia ter sido feito diferente, de que poderia ter sido evitado. Não fique caçando os erros e os acertos. Honre a memória dessas pessoas cuidando da sua própria saúde emocional.

Vamos todas nos cuidar <3