Na semana passada falamos sobre a escolha de ser ou não ser mãe, e como costumamos ser julgadas em ambos os casos.
Hoje, logo depois do Dia das Mães, nosso papo é sobre elas, mais especificamente sobre as mães millennials.
Se não for o seu caso fica aqui também porque como filha, amiga, irmã, essa mensagem também é para você.
Sabemos que existem mães da geração Z, maternando e compartilhando vídeos no TikTok com direito às dancinhas e tudo.
Mas queremos focar nas mães da geração Y, ou millennials, que são as mães que hoje estão com seus 28 a 35 anos, um pouco mais também.
Porque essas mulheres já tiveram um direcionamento diferente em sua criação. Suas mães talvez tenham engravidado cedo, com seus 20 e poucos anos, mas criaram suas filhas falando da importância de construir uma carreira, de ser independente, de buscar seus sonhos. E não são incomuns as mulheres que hoje, em 2022, com seus 30 anos, não se sentem nada prontas para serem mães.
Que ainda preferem a noite não dormida na balada do que a noite não dormida amamentando e trocando fraldas.
Que preferem o estresse de um novo projeto no trabalho do que o estresse de ter que correr com o filhote para o PS quando ele fica doente.
A Revista Crescer fez um levantamento sobre o perfil das mães millennials, que não abrem mão de sua liberdade e independência, mas tentam conciliar carreira, maternidade e vida familiar. Uma em cada três tiveram seu primeiro bebê entre 31 e 35 anos e 37% delas têm salários maiores ou equiparados aos dos seus companheiros.
Na apertada administração do tempo, 54% delas querem ficar mais com os filhos, sendo que 77% dedicam quatro horas ou mais por dia aos cuidados maternos – um tempo esse que, para 45% delas, é suficiente.
E nesse embate que toda mãe que trabalha sente, entre “o que preciso fazer” e “o que consigo fazer” é natural se sentir sobrecarregada, mesmo essa geração contando com mais apoio dos companheiros do que as anteriores.
Até quando se tem uma boa rede de suporte, a maternidade pode ser bastante solitária. Se na gravidez tudo o que você faz se torna de domínio público, com todo mundo falando o que você pode ou não pode fazer (como se você não soubesse) ou dando pitaco no seu peso, se está abaixo do esperado ou acima, quando a criança nasce você sente que se torna invisível, como bem descreve esse relato. Mesmo quando você está lá, com o maior amor do mundo em seus braços, você se sente abandonada, com um peso que parece muito grande para carregar.
Porque isso é outra característica dos millennials: o esgotamento mental.
Além do estresse emocional que é quase o habitat natural do millennial, quando se soma à ele as culpas da maternidade pode ficar puxado mesmo.
Se nossas mães eram conhecidas por frases como “veste um casaquinho”, “avisa quando chegar” e “toma cuidado”, a nova geração de mães têm que lidar com as próprias vozes da cabeça dizendo “meu filho/a quer brincar, mas estou exausta”, “ela/e me pediu esse brinquedo carésimo que não posso comprar” e “preciso voltar a trabalhar e dói muito ter que deixar meu filho com outra pessoa”.
Não podemos nem dizer que não fomos avisadas, porque toda mãe que cruzou o nosso caminho disse algo como “ser mãe é a coisa mais maravilhosa e mais desafiadora da minha vida”.
Se não todos os dias, é possível encontrar algum conforto e equilíbrio. Nossa condição, não de mães, mas de seres humanos permite isso. Lembra da filosofia do wabi-sabi? É sobre admirar e apreciar as coisas que são imperfeitas, mas não menos valiosas.
Vão ter dias que você vai falhar seja no papel de mãe ou de profissional, talvez em ambos, e está tudo bem.
Tem dias que você vai optar por abrir mão de algo por estar vivendo um momento lindo com seu filho ou filha e que merece toda sua dedicação.
Vão ter dias que você vai se sentir a pior mãe do mundo ao ter que falar um não ou quando não puder estar presente em um momento que seria importante.
Entre os choros do filho e os seus próprios, vai se construindo a vivência de ser mãe.
Sem certo ou errado.
Você pode maternar da forma que achar correta, mesmo que muitas pessoas queiram dar recomendações contrárias.
No fim do dia, tudo se resume ao laço que você está construindo com seu filho e basta você estar em paz com o que sente e faz, do melhor jeito que puder.
E quem não for mãe, o que pode fazer para ajudar?
Porque sabemos que ser mãe não se resume a um almoço de domingo em família. Acolher e se mostrar presente já é uma grande demonstração de afeto. Às vezes não se trata de ser a pessoa que vai cuidar do filho da amiga ou irmã quando ela não pode, mas sim mostrar que está lá para ela, para conversar, para fazê-la se sentir amada, capaz e como uma pessoa completa, e não reduzida ao papel de mãe que alimenta e troca fraldas.
Para quem tem amigas que são mães, não deixe de convidá-las para os roles, festinhas e afins. Ninguém melhor do que elas mesmas para avaliar se um determinado evento é compatível ou não com sua rotina, mas deixar de chamar só porque “ela virou mãe” é insensível.