Embora o Cerrado seja o segundo maior bioma do Brasil, uma savana com 5% da biodiversidade do planeta e 30% do país, e onde nascem as principais bacias hidrográficas da América do Sul, estima-se que hoje metade de sua área de 2 milhões de km² já foi desmatada para o agronegócio.

A importância de preservar o Cerrado tem ganhado cada vez mais destaque nos debates sobre meio ambiente, mas Roze Mendes, criadora da Flor do Cerrado (@flordocerrado), já vem chamando atenção para a causa há mais de 30 anos através de seus cursos e artesanato. Utilizar a flora típica, sem prejudicar o ecossistema é a base de suas criações. Segundo Roze, um trabalho de “formiguinha”, mas que a levou para lugares como Inglaterra, Bélgica, Argentina, Portugal, Moçambique e quase todo o Brasil. “Estive três vezes na África e lá tem uma cultura de artesanato muito próxima à nossa em termos de uso de recursos naturais, com coisas belíssimas. Aqui temos coisas únicas com um valor que deve ser lapidado por nós”, conta Roze, que também levou a Flor do Cerrado para a exposição “Mulheres que fazem a diferença”, realizada pela ONU em Genebra.

Quando se mudou para a cidade de Samambaia, no Distrito Federal, Roze já fazia artesanato e viu o potencial que a cidade tinha para que mais pessoas pudessem criar. Ela começou a dar aulas em um espaço da Igreja da Barca. “Sempre gostei de ensinar e aprendi muito ensinando. Vi mulheres que puderam comprar coisas para elas por causa do seu trabalho e ficava muito feliz com esse resultado. Só que eu não queria apenas ensinar, queria que as pessoas tivessem responsabilidade com o Cerrado que eu gosto muito e sempre me atraiu pela vegetação e pelas cores. Muitas pessoas trabalham com o Cerrado, mas nem sempre com um olhar para toda a cadeia envolvida, se tudo é feito de forma ecologicamente correta, como os fornecedores trabalham. Eu aprendi a fundo, pesquisei as espécies, desenvolvi técnicas que retiram o mínimo possível da matéria-prima”, afirma. Depois, em parceria com o SEBRAE, Roze pode ministrar mais cursos e chegar em mais pessoas de diversas comunidades.

Entre seus trabalhos estão acessórios, itens de decoração, bolsas, peças de roupa, buquês de noiva, painéis e quadros confeccionados através de várias técnicas como o bordado, fuxico, pintura, trançados, crochê, reciclagem, tingimento natural e esqueletização. Entre os diversos prêmios recebidos por Roze estão o Prêmio Casa Cor (Brasília/2004), Prêmio Planeta Casa (Revista Casa Claudia/2005), Prêmio Mulher Empreendedora 2006 (SEBRAE/NA) e o reconhecimento de Mestra Artesã pelo Programa do Artesanato Brasileiro (PAB) em 2019.

Roze lamenta porque diz que hoje o Cerrado “chora” com as queimadas, desmatamento e descarte incorreto de resíduos, mas fica feliz de ter sido responsável pela criação de diversos multiplicadores da sua arte que, para além da beleza, traz consciência sobre a urgência de preservar esse importante bioma.