Em Timbaúba dos Batistas, na região do Seridó do sertão nordestino, a 282 km de Natal, as cores e formas da Caatinga servem de inspiração para decorar bordados em peças de algodão.  A técnica é uma herança portuguesa do século XVIII e bordados tradicionais semelhantes também são produzidos nos dias de hoje na Ilha da Madeira em Portugal.

Alcilene Medeiros da Conceição teve duas motivações para começar seu trabalho, a independência financeira e a admiração por essa forma de arte. “Além da necessidade de ter um ganho, já que meus pais eram agricultores e não conseguiam dar tudo que queríamos, meu interesse nasceu quando eu ia para o colégio e, no caminho, por todas as casas que eu passava tinha uma bordadeira na janela. Eu olhava com um pouco de vergonha, para ver como elas estavam fazendo e achava lindo. Então aprendi por conta. Mostrei meu primeiro bordado, um pano de copa, para uma professora que dava curso de bordado e ela comprou. Nunca tive oportunidade de fazer cursos, mas fui me aperfeiçoando sozinha e até criei meus próprios pontos que já ensinei para as meninas do grupo”, conta Alcilene.

 

Hoje 12 mulheres participam do Timbaúba dos Bordados (@timbaubadosbordados), criado em 2017, e vivem exclusivamente com a renda do trabalho artesanal. É muito gratificante ter esse retorno. Antes, todas nós bordávamos individualmente e vendíamos para comerciantes ou atravessadores que levavam nossos bordados sempre com a promessa de que teríamos um grande retorno, mas isso nunca acontecia. Foi quando a estilista Helô Rocha conheceu o nosso trabalho que começamos a ter reconhecimento. Ela levou nossas peças para São Paulo, para a TV e para a São Paulo Fashion Week”, afirma Alci. O grupo de bordadeiras produz todo tipo de vestuário que vai de camisas, shorts, biquínis, saída de banho, vestidos de festa a vestidos de noiva.

O bordado é uma forma de ser livre e, assim como as flores da Caatinga, permite que as mulheres também floresçam. “Quando a mulher se torna independente, quando pode ter o que quiser com o dinheiro dela, com o trabalho dela, a autoestima se eleva”, afirma Alci.

Alcilene organiza agora dois novos cursos, um para aperfeiçoamento de técnicas e outro para iniciantes para que os jovens tenham acesso à pratica do artesanato e para que a tradição não deixe de existir.