Lembra do Papo no Banheiro que a Yasmine fez? Os vídeos estão lá no insta dela, como esse aqui.
Trouxe o tema do banheiro porque esse é um ótimo lugar para encontrar demonstrações espontâneas de parceria feminina.
Você está lá, num espaço limitado, com uma acústica não muito favorável, então acaba ouvindo as conversas alheias.
E já que estamos compartilhando o mesmo recinto acabamos interagindo. É tão bom quando completas desconhecidas viram uma pra outra e falam “amigaaa você é maravilhosa” ou “amei a sua roupa!”. Sem contar os conselhos, nem sempre solicitados, mas muito pertinentes como: “eu não sei quem é esse cara, mas você merece mais!”
Para além dos banheiros, é muito reconfortante saber que esse movimento de mulheres apoiando e levantando outras tem se expandido para todos os lugares. Cada vez mais vemos exemplos de empatia, de sororidade, de união em prol de todas.
Mas não se muda anos, talvez séculos, de uma cultura de rivalidade que existiu, fez parte da nossa formação e infelizmente ainda persiste.
“Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?”
Essa frase da madrasta da Branca de Neve é um exemplo disso. Quando uma mulher não aceita não ser a número 1 e quer destruir quem a ameaça.
A rivalidade entre mulheres nada mais é do que nos colocar em uma situação constante de competição.
Crescemos achando normal existir um concurso de beleza para escolher uma única mulher que seria a mais bonita do universo. Como se a beleza não pudesse ser plural. Como se não fosse relativa ou ainda um conceito construído.
Vimos a rivalidade nos desenhos, nas novelas e nos filmes incontáveis vezes reforçando os estereótipos que ignoram a profundidade de cada ser humano.
Sempre temos a heroína boazinha e sua antagonista, ruim, e elas precisam ter algum confronto onde uma das partes sairá perdendo. Essa dicotomia ignora completamente o fato de que na vida real, todas temos sentimentos bons e ruins, inseguranças, e que não precisamos lidar com isso de um jeito que prejudique quem “seria a nossa oponente”.
Essa competição nem sempre é explícita ou manifesta. Nós mesmas podemos ativar esse mecanismo no nosso dia a dia sem nem perceber. Por exemplo, ao ver o post de uma amiga que está fazendo algum tratamento estético, não é meio que automático nos avaliarmos pra saber se também não precisamos desse procedimento? Podemos ou ficar inseguras com a nossa aparência ou julgar a da nossa amiga. Ao comparar, estamos de certa forma competindo.
E tem outras situações bastante estranhas. Normalizamos que alguém chegue para uma menina, uma criança, e diga “ah essa daí vai dar trabalho quando crescer”. Oi? Por que? Trabalho pra quem? Para os pais afinal será objeto de desejo entre os “potenciais pretendentes”? Trabalho para as mulheres, pois será uma ameaça aos casamentos alheios?
Não, nada na aparência de uma menina é um indicativo de seu comportamento. Ela vai apenas ser o que quiser e se relacionar com quem quiser. Falar que vai dar trabalho não é elogio.
E quando falamos em relacionamentos então… fica ainda mais complicado.
Talvez você já tenha sentido ou então conheça alguém que passou por isso: você está com seu/sua namorado/a e fica brava com as mulheres que estão lá, apenas existindo, com medo ou raiva de que seu parceiro/a possa olhar, se interessar ou flertar com elas.
Nossas inseguranças devemos resolver no próprio relacionamento, com nós mesmas, na terapia. Não procurando alvos para culpar.
Outra coisa injustificável, mas frequente, é sentir ciúmes de ex. Ter tido um passado juntos não quer dizer nada no momento presente, nem faz da nova namorada automaticamente sua rival. Relacionamentos são dinâmicos, mudam, acabam. Pode ser que ao final você nunca mais verá a pessoa. Ou pode ser que vocês tenham algo em comum, filhos, amigos e vão conviver. E se a pessoa estiver em um novo relacionamento, não sinta que a namorada está tirando algo que foi seu, invadindo seu território. Pessoas não são posses. Aprenda a desapegar do passado.
Competimos porque parecemos “precisar” de uma validação externa das qualidades que temos, que na verdade deveriam importar apenas a nós mesmas.
Não queira ser a mais bonita, a mais inteligente, a mais engraçada. Apenas seja você. E se aprecie. Claro que você pode desenvolver habilidades sociais, competências novas e cuidar da sua aparência para deixá-la da forma que te agrade. Mas faça isso por você, não para competir e ficar acima de outras mulheres em um pódio invisível.
Se deixamos essa rivalidade nos afetar, entramos em um ciclo onde desvalorizamos nossos atributos ou conquistas e superestimamos o sucesso alheio. Prejudicamos nossa saúde emocional e autoestima ou, pior ainda, reagimos de forma agressiva criticando de forma gratuita uma mulher, seja por sua aparência, por algo que ela fez ou disse, apenas para deixá-la pra baixo. Sem tentar entender o contexto, sem saber pelo que ela está passando. Sem ter consciência que nossas palavras também machucam. Não importa se é uma mulher bem sucedida, famosa, bonita, supostamente bem resolvida, por que tantas de nós ainda tentam diminuir outras?
Até na maternidade existe competição:
Vivemos sim em um mundo que tentou por muito tempo nos colocar em caixinhas, nos classificar entre boas e ruins, pervertidas ou santas, para casar ou não, que cobrou uma aparência ao mesmo tempo padronizada e inacessível. Parte de combater isso é não deixar que essa rivalidade persista entre nós.
Como disse Simone de Beauvoir, “o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”.
Queremos um mundo onde as mulheres possam dividir suas conquistas, não tenham medo de expor suas vulnerabilidades, não sejam constantemente julgadas e, principalmente encorajem outras mulheres a abraçar suas qualidades. Que a gente se inspire e seja inspiração umas das outras. Não estamos em disputa.